A extensa carta de 19 sacerdotes e teólogos
da ala conservadora da igreja romana, acusando o papa Francisco de
heresia, suscita questionamentos, pondo em evidência proverbiais contradições,
no caso, suscitando dúvidas sobre a suposta infalibilidade do papa, proclamada
pelo papa Pio IX no Concílio Vaticano I, no século XIX. Desde que
coerentes com sua posição conservadora, os signatários da carta jamais se
atreveriam a negar tal dogma, solenemente proclamado por um concílio universal
da Igreja, correndo o risco de, também, serem declarados hereges. Imagine-se se
Francisco, para valer-se de autoridade, recorresse à infalibilidade,
supostamente outorgada pela sua eleição e posse, acreditadas por obra do
Espírito Santo. Estariam seus detratores, prostrando-se diante do sólio
pontifício, em atitude de obediência, sem contestação, reconhecendo o papa como
inconteste representante de Cristo? Tranquilizem-se os supostos possuidores da
verdade, pois, diante de seu espírito conciliador e democrático, constantemente
evidenciado em seu discurso, jamais Francisco usará de tal prerrogativa,
preferindo o diálogo, em busca da verdade, sem ferir quem com ferro o fere.
Quem sabe, um dia, iluminados por algum espírito do além, se convençam de que a
liberdade de expressão se assenta, também, e com mais razão, para o papa.
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