sábado, 30 de janeiro de 2016

Casamento

Volta e meia, principalmente no âmbito das igrejas, surge a questão da indissolubilidade do matrimônio. À luz da razão e da coerência, não há como defender a indissolubilidade do casamento. É um contrato celebrado entre duas pessoas sob determinadas condições tendo o juiz, o padre ou o pastor, apenas, como fiadores do ato, em nada interferindo nas intenções dos contratantes. Assim como em qualquer outro contrato, desde que não persistam as condições acordadas, ou vierem a ser descobertas enganosas, ou não mais convenientes, não há como obrigar a sustentação do contrato, podendo ser denunciado por uma das partes ou por mútuo consenso a ser confirmado, ou não, pela autoridade competente, quando necessário para autorização de eventual celebração de novo contrato. Aos que recorrem ao texto bíblico “O homem não separe o que Deus uniu” resta provar que Deus, realmente, uniu, e em que condições, cabendo o julgamento aos contraentes, em nome da liberdade de consciência, não tocando a qualquer igreja o direito de definir culpabilidade pelo ato e, muito menos, aplicar-lhe penalidades. Quanto às consequências da separação, caberá à Justiça cuidar para que não venham a prejudicar terceiros.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Francisco, Lutero, Maomé

Para observador atento não é difícil ver na anunciada visita do papa Francisco à Suécia um oculto simbolismo com relação aos questionados pronunciamentos do pontífice sobre determinados temas que vem incomodando a ala conservadora da Igreja. A igreja cristã dominante na Suécia é o luteranismo implantado na metade do século XVI pela rei Gustavo I que rompeu relações com a Igreja Romana. Talvez seja a ala do protestantismo mais fiel ao pensamento do frade alemão Martinho Lutero ao se contrapor à Igreja Romana no início do século XVI com a fixação das 95 teses na porta da igreja de Wittenberg. Vê-se nítido simbolismo ao se colocar em paralelo os posicionamentos do atual papa sobe temas polêmicos e a realidade da Igreja Luterana da Suécia. A Igreja Luterana na Suécia é uma instituição que trilha o caminho da modernidade, sob regime eminentemente democrático. É atualmente dirigida por uma mulher, Antje Jackelén. Admite a ordenação de mulheres sem qualquer discriminação sexual. São consagrados bispos assumidamente gays sem causar qualquer estranheza entre os fieis. A visita do papa acontece durante as comemorações do 500º aniversário da Reforma Protestante. Segundo noticiado pelo Vaticano, o papa tem a intenção de participar de cerimônia comemorativa do evento, com a participação da Igreja Católica e da Federação Luterana Mundial, a ser realizada em Lund no sul da Suécia, sede do arcebispado da Escandinávia e a que está subordinada a arquidiocese da Suécia. Nessa cidade localiza-se a Universidade de Lund, uma das mais importantes do mundo, centro irradiador da milenar cultura dos povos escandinavos. A Escandinávia abrange a Dinamarca, a Suécia e a Noruega onde, 88,7% dos habitantes pratica o luteranismo e, apenas, 3% são católicos. Vai-se ver o papa Francisco comungando com fiéis de uma facção cristã há quatro séculos condenada por Roma por meio de um dos mais importantes e longos concílios ecumênicos do Cristianismo, o Tridentino que, em vez de se reunir para meditar sobre possíveis erros apontados por Lutero, ateve-se, apenas, a condenar sem qualquer discriminação, não separando possível joio do trigo. Há de se imaginar o alvoroço que a visita vai provocar nos mofados subterrâneos do Vaticano. Que se cuide Francisco para garantir seu retorno a Roma contra possíveis artimanhas de ocultos inimigos prontos a garantir, a qualquer preço, seus conquistados privilégios. Viajando fora do tempo, imagine-se o papa Francisco e Martinho Lutero sentados a uma mesa redonda, revisando as 94 teses, antes de serem afixadas na porta da Igreja! A reforma teria acontecido de outra forma, sem o desagregador apelido de protestante. As últimas ações de Francisco em direção ao Judaísmo e, agora, ao Luteranismo, indicam a tentativa de juntar cacos com a intenção de restabelecer a unidade na fé. É bom não esquecer, que a Igreja Romana é, também, um dos cacos e que precisa quebrar seus tabus para permitir a recomposição da unidade para que não se reduza a uma simples colagem de intenções. Uma unidade que não exclua a diversidade, respeitando as mil formas de a humanidade procurar e descobrir a Divindade para com ela se encontrar. O mundo ocidental está procurando o caminho das armas para combater o terrorismo oriental. Não demora Francisco vai se sentar à mesa com Maomé para discutir o assunto em busca de uma saída que implique o respeito mútuo. “Não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito da dignidade individual” (Pierre Lecomte Du Nouy). BSB, 26 de janeiro de 2016.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Inversão de valores

Define-se moral como o conjunto de crenças e normas que guiam e orientam o comportamento das pessoas em grupo ou individualmente, caracterizando a honestidade ou desonestidade dos atos. Normalmente é fruto da cultura de cada povo no decorrer de sua história. Assim sendo, cada grupo pode ter crenças e normas divergentes como acontece, por exemplo, entre Cristianismo, Islamismo, Budismo. Especificamente, dentro de um pais, cada partido pode criar sua própria moral de acordo com seus objetivos e conveniências. Num mesmo partido, às vezes, indivíduos divergem do grupo criando sua própria moral de acordo com interesses pessoais. Dai que, a título de exemplo, o conceito de corrupção pode assumir conotações diversas a ponto de ser considerada legítima por determinados indivíduos. Semelhante situação explicaria o discurso do ex presidente Lula quando diz “... não tem nesse país uma viva alma mais honesta do que eu”.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

É brincadeira!

Ou é pura gaiatice, ou é o fim da picada o advogado do presidente da Câmara Eduardo Cunha pedir a suspensão do processo que corre contra ele por ser possível sucessor de Dilma na presidência. Na lógica, estender-se-ia o privilégio para o vice presidente, o presidente do Sanado e do Supremo Tribunal Federal que, também, estão na linha de sucessão. Como tudo pode acontecer em república de bananas, numa estripulia, bem a estilo tupiniquim, o direito acolheria, inclusive, os batidos ex candidatos à presidência, Aécio Neves, Marina Silva e outros de menor expressão, na expectativa da anulação da eleição da dupla Dilma e Temer. Nesse caso a situação da sucessão viraria um rebú, de angu de carroço a ser dissolvido pelo STF em longas diatribes com empolados discursos para enfeitar auto biografias e servir de base para firmar jurisprudência em futuras vicissitudes de semelhante confusão.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Estranho e lamentável...

Estranho e lamentável que só agora, os eminentes advogados se lembraram de fazer veemente protesto contra presumidas irregularidades do processo Lava Jato enquanto investiga e julga altos figurões da República, esquecendo que as citadas irregularidades são constantes quando se trata de investigação e julgamento de criminosos comuns. Como advogados que deveriam zelar pelo justo andamento dos processos, não deveriam esquecer do 5º artigo da Constituição que prescreve que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”.

Ciência e Fé

Se Agostinho, o bispo de Hipona, não tivesse se convertido ao Cristianismo, teria se tornado um dos maiores filósofos da humanidade. Desde que sujeitou seu saber à condição de “ancila fídei” seus ensinamentos perderam substancial credibilidade perante a racionalidade que rege a Filosofia. Teria o mesmo significado a atitude de Santo Tomás de Aquino que, no leito de morte, teria pedido a seus auxiliares que suspendessem os trabalhos, por ter recebido mensagem de que tudo o que escrevera até então era palha. Não terá sido “por ter subordinado especulações filosóficas aos dogmas das escrituras sagradas, sob o domínio da Igreja Católica” nas palavras do analista José Renato Salatiel? Sabe-se o quanto o aquinate teve que reformar sua linha de pensamento filosófico para não se ver anatematizado pelas autoridades da Igreja. Tome-se como exemplo a teoria do pecado original, formulada por Agostinho, por muitos séculos adotada pelo Cristianismo, hoje em pleno descrédito da maioria dos exegetas, inclusive, cristãos. O erro está no péssimo costume de exegetas estabeleceram verdades como infalíveis sem ouvirem os reclamos da Filosofia que pauta o caminho da ciência para não se desviar da razão, desde que não se há de aceitar qualquer irracionalidade na existência do Universo. Se não se há de negar verdades, simplesmente, porque a Ciência não as comprove, negue-se o direito de impô-las à revelia da razão. A história de Galileu Galilei é um marco histórico para a humanidade no sentido de alertar a Fé e a Ciência de andarem de mãos dadas em busca da verdade. Pelo menos, nada deveria ser definitivo enquanto não houver concordância entre as duas vertentes. Poderá acontecer que essa concordância jamais venha a acontecer. Fé e Ciência tem poderes diferentes que, porém, devem ser exercidos em harmonia para não se contradizerem, sem, porém, qualquer subserviência. Se assim fosse, Giordano Bruno não teria sido condenado à fogueira da inquisição pelo simples fato de afirmar a infinitude do Universo, hoje, admitida pela Ciência e, pelo menos, respeitada pela Fé. Não continuaria a ser condenada a teoria de Baruch Espinosa do “Deus sive Natura”, cada dia mais plausível à luz das descobertas científicas. Não estariam no extinto “Index Librorum proibitorum” as reveladoras obras de Telhard de Charden que, ainda, andam sepultadas. Estaria no canon dos doutores da Igreja a controvertida figura do Martinho Lutero com suas 72 teses afixadas na porta de uma igreja reconhecendo que, também, ele foi um marco na História do Cristianismo. Estaria sendo condenado o papa Pio IX por ter proclamado a infalibilidade pontifícia, responsável por boa parte de dogmas que desfiam a racionalidade. São fatos que acontecem dentro de limitadíssimo espaço de tempo, frente à eternidade do Universo em evolução. É o tempo, que não tem tempo para acontecer. Quando chegar um tempo, será tempo de novamente acontecer porque o Universo é eterno, em constante acontecer. Esse é um dos mistérios que, eternamente, ocupará a mente do ser inteligente justificando sua existência. Todo o ser humano é mortal e passageiro, a humanidade em evolução é que é eterna dentro da eternidade do Universo, sem principio e sem fim. O big-bang não foi o princípio do Universo, foi, apenas, o início de nova fase a se repetir eternamente.

Religião

A reaproximação entre o papa Francisco e os rabinos judeus pode significar o reconhecimento e o arrependimento, por parta da Igreja, pelas injustiças infligidas ao povo judeu durante quase dois milénios. Tal atitude, porém, não redime o dito povo eleito de seus, também, milenares crimes cometidos contra a humanidade em nome do Deus de Abrahão. Ao contar a trágica história do povo hebreu, certamente, a Bíblia não pretende justificar as atrocidades que vem sendo postas nas telas da TV Record causando fricção dos telespectadores menos reflexivos que torcem pelo triunfo de um povo, estranhamente, protegido por Deus.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Culto aos santos

Não há como se comprovar, nem bíblica nem historicamente, a existência de culto a Maria, mãe de Jesus, desde o início do Cristianismo. Exegetas que advogam a existência de provas usam passagens dos evangelhos de cunho histórico que, a rigor, não autorizam deduzir indução ao culto a Maria, mãe de Jesus. A vida de Maria, assim como de outras personalidades como a dos apóstolos, está estreitamente ligada à história de Jesus contada nos evangelhos sem, necessariamente, significar que as referências tenham como objetivo recomendar o culto mariano. Não se está a negar a validade do culto a Nossa Senhora, como de qualquer outro santo. Pouco importa quando tal culto se iniciou. O que a Igreja deveria ter evitado é deixar que tal prática ultrapassasse os limites de uma simples devoção passando para uma adoração que por mais que, teoricamente, se diga o contrário, soa uma adoração levando os fieis a se arrastarem aos pés de imagens. Apesar dos esforços do Concilio Vaticano II, com frequência, nos altares, Cristo é colocado em segundo plano dando lugar a imagens de Nossa Senhora e dos santos distorcendo a essência da religião. Para cúmulo do desvirtuamento, Nossa Senhora e santos são recomendados como intercessores imediatos perante a Divindade, contrariando o evangélico preceito de que entre Deus e o homem só há um único mediador, Cristo. Não há nos evangelhos nenhuma menção de Cristo autorizando outros intercessores. Pelo contrário, ele mesmo se dispensa ao ensinar o Pai Nosso ligando o fiel, diretamente, com o Altíssimo. O culto a Maria está revestido de tantas práticas, às vezes, esdrúxulas, que acabam desvirtuando a verdadeira imagem da Mãe de Jesus. Quando, por exemplo, se reza a ladainha de dezenas de títulos que lhe são atribuídos, tem-se a impressão de ver Maria andando entre o povo com um embornal a tiracolo distribuindo centenas de invocações para cada circunstância da vida. E vai o fiel atrás de descobrir qual a melhor para cada momento. Já vi em ambiente familiar, altar na cabeceira da cama com dezenas de imagens, misturando santos com Maria representada sob diversos títulos, às vezes, o mesmo título sob formas e tamanhos diversos, a serem invocados a cada dia da semana e do mês, como se cada Nossa Senhora fosse outra. Tem-se a sensação de uma Nossa Senhora, tipo centopeia, que precisa de centenas de penas para alcançar os fieis. Bastaria-lhe o título de Mãe de Jesus, o único que, realmente, pode ser auferido dos evangelhos representando toda a verdade de sua presença na vida de Jesus (*). Espera-se que o papa Francisco, com sua clarividência, já tenha percebendo a distorção que domina a devoção a Nossa Senhora e dos santos necessitando ser-lhe impresso o sentido, puramente, devocional. Com o tempo, prudentemente, troque as visitas a santuários, onde a prática é mais distorcida, substituindo-as por subidas aos morros das favelas, palmilhando as ruelas esburacadas pela miséria para ensinar o verdadeiro sentido da religião a ser orientada para o Deus Misericórdia. BSB,, 13 de janeiro de 2016. (*) Vem a propósito a piada das duas devotas discutindo suas devoções a Nossa Senhora. Joselina confessa: - Sou devota de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Há anos venho lhe pedindo para engravidar. Quem sabe, um dia, consiga a graça. Mastalda, com bebê no colo, sugere: - Quer um conselho? Mude para Nossa Senhora da Conceição que, para o caso, é muito mais poderosa e adequada. Confie na minha experiência.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Advertência

Diante do estourar de constantes manifestações desconexas que pipocam Brasil afora, provocadas pela caótica situação que assola a nação, a sorte do governo é a desunião do povo brasileiro, consequência da falta de uma liderança efetiva para enlaçar as reivindicações sob uma única bandeira que, torça-se, seja a da Ordem e do Progresso. Se cuide o governo para que tal liderança não venha a cair nas mãos de elementos espúrios que, com segundas intenções, conduza o Brasil para uma convulsão social.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Eduardo Cunha

Tem toda a razão o ministro Jaques Wagner ao proclamar que o presidente da Câmara Eduardo Cunha “é um cara determinado”. Apesar de cercado de lama por todos os lados, consegue sobrevive nadando na superfície da politicagem que domina as instituições governamentais com tiradas desnorteantes comprovando que “jogo politico é para profissionais”. Com a experiência de seu longo estágio político, sabe jogar peteca com as duas mãos, dando uma na cangalha e outra no lombo do burro, desnorteando seus adversários. Imagine-se Eduardo Cunha na presidência da República, com a sede de poder já saciada, possuído de tamanha determinação, desde que regado de boas intenções, despido de interesses pessoas, visando, unicamente, a salvação do Brasil!

Otimismo

O otimismo é uma arma poderosíssima para vencer na vida. Poucos, porém, sabem utiliza-la adequadamente. O exemplo vem do humilde jogador de futebol do modesto time Goianésia de Goiás, Wendell Lira. Ao agradecer a honraria pelo mais belo gol do futebol mundial, conferido pela FIFA, deixou a seguinte mensagem bíblica: “Quando Golias apareceu disseram: ‘ele é muito forte, grande, não tem como ganhar dele'. Davi disse: 'Ele é muito grande, não tem como não acertar ele”.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Parecer fajuto

Para quem acompanhou com atenção a sessão do Supremo Tribunal Federal em que o ministro Luiz Barroso anulou a eleição da Comissão especial que respaldou autorização de instauração do processo de impeachment da presidente Dilma, ficou clara a má fé, incidindo em vergonhosa fraude, ao pretender provar a inexistência de prescrição do voto secreto no Regimento Interno da casa. Ao ler textualmente o inciso III do Art. 188 do Regimento Interno, tentando, ardilosamente, provar sua tese, acintosamente, truncou o inciso eliminando a última expressão ... e nas demais eleições, que autoriza a eleição secreta. Por cúmulo de cinismo, ou, na melhor das hipóteses, por falha de memória, afirmou que no caso do ex-presidente Fernando Collor a votação teria sido de forma aberta quando, na realidade, foi secreta, circunstância que, inclusive, cria jurisprudência. Estranho que nenhum dos demais ministros presentes não tenha percebido a manobra do colega, ou fingido não ser percebido, aceitando a anulação da eleição da Comissão levando a questão do impeachment à estaca zero. Simples corporativismo ou intenção de impedir que a presidente seja investigada dentro do que a Constituição prescreve? É bom que se observe que a ação do ministro, com o apoio dos demais membros do colegiado, indica indevida intromissão de um poder, representado pelo STF, nas competências de outro, representado pela Câmara Federal. Em nome da independência dos poderes, a corte suprema não poderia ter interferido, desde que o presidente da casa agiu, estritamente, dentro de competência que lhe é garantida pela Constituição. De roldão, o STF levou a harmonia para o fundo do brejo, o pântano da corrupção.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

É conversando que não se entende.

A conversa da presidente Dilma desta semana com os jornalistas foi a demonstração cabal da falta de preparo à frente de um governo sem rumo. Discurso vazio, cheio de colocações desconexas, sem sentido, semeadas de abobrinhas, não dizendo coisa com coisa. Discurso de quem tenta se esconder por detrás de temas que não domina, dizendo disparates como ao afirmar sobre a intenção, não disse de quem, de pretender mudar o passado, não percebendo que o passado não se muda, apenas, tenta-se esclarecê-lo para entendê-lo. Foi uma tentativa simplória de enganar um auditório de tarimbados jornalistas que, apesar de tudo e como de costume, souberam manter-se respeitosos, certamente, com um sorriso travesso sob os bigodes.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Lá e aqui

Na Venezuela os execrados lideres que outrora tentaram afundar o país na lama da corrupção em direção à ditadura, sendo representados por vistosos outdoors enfeitando as repartições públicas, hoje estão vendo suas representações arrastadas pelos corredores em direção aos porões da História para serem esquecidos. No Brasil, lideres de mesma espécie, estão sendo representados por bonecos e pichulecos inflados sendo carregados pelas ruas e praças pelo povo para jamais serem esquecidos e repetidos.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Quem é Deus?

No tempo de crianças, essa era a primeira pergunta que éramos  levados a responder  quando decorávamos, como papagaios,  o Catecismo Católico. E a resposta pomposa era, sempre, a mesma: “Deus é um puro espírito Criador do Céu e da Terra”. Seria taxado de herege quem mudasse uma palavra, mesmo que fosse, apenas, o tempo do verbo: Seria Deus um puro espírito... não dando  margem a qualquer dúvida.
Durante séculos, eminentes filósofos cristãos e não cristãos tentaram mudar essa definição, esbarrando sempre em não menos eminentes teólogos brandindo, em nome da Fé, a afiada espada do “anatema sit”, a exemplo do culto e intransigente Ratzinger, para lembrar, apenas, o último que, espera-se, tenha sido o derradeiro.
 Depois que a Ciência proclamou a independência, deixando de ser a “ancila fídei”, notadamente a partir da Idade Moderna, as pesquisas se intensificaram em busca da explicação da origem do Universo, quem sabe, o caminho para encontrar a verdadeira definição da Divindade.  Por mais que os poderosos telescópios, porém, tentem alcançar os limites desse misterioso Universo, parece que, em sentido contrário, a definição  da Divindade torna-se cada vez mais distante. Vem aí a teoria quântica, com a multiplicação de universos, distanciando, ainda mais, tal possibilidade.
O filósofo Giordano Bruno deu grande passo ao advogar a infinitude do Universo. O fogo da inquisição, porém, ao queimá-lo vivo, pretendeu reduziu a cinzas sua teoria. Com o reconhecimento da infinitude do Universo seria mais fácil conceber a Divindade, equivocadamente, expressa sob mil formas por outras tantas crenças.
Como já se afirmou noutra circunstância, a indefinição do mistério da origem do Universo será eterna justificando a existência da razão humana, ou de qualquer outro ser, por acaso existente com semelhante prerrogativa, cujo deleite é a procura da verdade que se esconde por detrás de tantas maravilhas que a tecnologia vai revelando sem, jamais chegar a qualquer limite tendo em vista que tal limite, tudo indica, não existe.
Diante de tantas maravilhas do Universo, haveria quem, em sã consciência, pudesse classificar alguém como ateu? Quando o velho sacerdote se aproximou do profeta de Gibran Kalil  e pediu  - “Fala-nos da religião”, ele começou a falar: “Tenho eu falado de oura coisa hoje?  Não é a religião todas as nossas ações e reflexões?... Quem pode separar sua fé de suas ações, ou sua crença de seus afazeres?”
Como dizer que um filósofo, um cientista, um pesquisador ou, ate,  um simples pensador, é ateu enquanto tenta penetrar a verdade do Universo?  Suma covardia seria o ser inteligente render-se a formulações mitológicas quando tem o instrumento da razão para ir além em busca da verdade tentando liberta-la de invólucros que escondem seu esplendor.
Para atender exigências de culturas circunscritas por dimensões materiais, na tentativa de explicar o Universo, não haveria outra saída para os mitólogos de épocas remotas, que se perdem na História a Humanidade, senão expressar as verdades por meio de concepções materialistas humanizadas e, até, brutalizadas, revestindo-as com aparências perceptíveis para povos despidos da dimensão espiritual, contaminados pela concepção heterônoma que comportaria dois mundos, um material, o terreno, onde habita, provisoriamente, o ser humano, e o espiritual, habitado por gloriosa coorte celestial, onde aportará um dia para sua estabilização final.

 Em resumo, seja qual for a denominação de Deus, independente das diversas tendências religiosas, seria impróprio reduzi-lo a formas personalizadas, ainda que fosse à imagem de um ser humano, sob a qual se apresenta incapaz de reger o Universo, incompetente, injusto, desleixado, nada previdente, nem mesmo , compassivo. Foi a semelhante Deus, coincidentemente, o seu Deus, o Deus dos cristãos, a quem o papa alemão Bento XVI se referiu ao visitar o campo de concentração nazista de Auschwitz, não se contendo diante de tanta perversidade, advertindo-o, à revelia da fé que sempre lhe devotou, com a indagação: “Porque silenciaste?”