No
tempo de crianças, essa era a primeira pergunta que éramos levados a responder quando decorávamos, como papagaios, o Catecismo Católico. E a resposta pomposa
era, sempre, a mesma: “Deus é um puro espírito Criador do Céu e da Terra”.
Seria taxado de herege quem mudasse uma palavra, mesmo que fosse, apenas, o
tempo do verbo: Seria Deus um puro espírito... não dando margem a qualquer dúvida.
Durante
séculos, eminentes filósofos cristãos e não cristãos tentaram mudar essa
definição, esbarrando sempre em não menos eminentes teólogos brandindo, em nome
da Fé, a afiada espada do “anatema sit”, a exemplo do culto e intransigente
Ratzinger, para lembrar, apenas, o último que, espera-se, tenha sido o
derradeiro.
Depois que a Ciência proclamou a independência,
deixando de ser a “ancila fídei”, notadamente a partir da Idade Moderna, as
pesquisas se intensificaram em busca da explicação da origem do Universo, quem
sabe, o caminho para encontrar a verdadeira definição da Divindade. Por mais que os poderosos telescópios, porém,
tentem alcançar os limites desse misterioso Universo, parece que, em sentido contrário,
a definição da Divindade torna-se cada
vez mais distante. Vem aí a teoria quântica, com a multiplicação de universos,
distanciando, ainda mais, tal possibilidade.
O filósofo Giordano
Bruno deu grande passo ao advogar a infinitude do Universo. O fogo da
inquisição, porém, ao queimá-lo vivo, pretendeu reduziu a cinzas sua teoria.
Com o reconhecimento da infinitude do Universo seria mais fácil conceber a
Divindade, equivocadamente, expressa sob mil formas por outras tantas crenças.
Como
já se afirmou noutra circunstância, a indefinição do mistério da origem do
Universo será eterna justificando a existência da razão humana, ou de qualquer
outro ser, por acaso existente com semelhante prerrogativa, cujo deleite é a
procura da verdade que se esconde por detrás de tantas maravilhas que a
tecnologia vai revelando sem, jamais chegar a qualquer limite tendo em vista
que tal limite, tudo indica, não existe.
Diante
de tantas maravilhas do Universo, haveria quem, em sã consciência, pudesse classificar
alguém como ateu? Quando o velho sacerdote se aproximou do profeta de Gibran
Kalil e pediu - “Fala-nos da religião”, ele começou a
falar: “Tenho eu falado de oura coisa hoje?
Não é a religião todas as nossas ações e reflexões?... Quem pode separar
sua fé de suas ações, ou sua crença de seus afazeres?”
Como
dizer que um filósofo, um cientista, um pesquisador ou, ate, um simples pensador, é ateu enquanto tenta penetrar
a verdade do Universo? Suma covardia
seria o ser inteligente render-se a formulações mitológicas quando tem o
instrumento da razão para ir além em busca da verdade tentando liberta-la de invólucros
que escondem seu esplendor.
Para
atender exigências de culturas circunscritas por dimensões materiais, na tentativa
de explicar o Universo, não haveria outra saída para os mitólogos de épocas remotas,
que se perdem na História a Humanidade, senão expressar as verdades por meio de
concepções materialistas humanizadas e, até, brutalizadas, revestindo-as com
aparências perceptíveis para povos despidos da dimensão espiritual,
contaminados pela concepção heterônoma que comportaria dois mundos, um
material, o terreno, onde habita, provisoriamente, o ser humano, e o
espiritual, habitado por gloriosa coorte celestial, onde aportará um dia para
sua estabilização final.
Em resumo, seja qual for a denominação de
Deus, independente das diversas tendências religiosas, seria impróprio reduzi-lo
a formas personalizadas, ainda que fosse à imagem de um ser humano, sob a qual se
apresenta incapaz de reger o Universo, incompetente, injusto, desleixado, nada
previdente, nem mesmo , compassivo. Foi a semelhante Deus, coincidentemente, o seu Deus, o Deus dos cristãos, a quem
o papa alemão Bento XVI se referiu ao visitar o campo de concentração nazista
de Auschwitz, não se contendo diante de tanta perversidade, advertindo-o, à revelia
da fé que sempre lhe devotou, com a indagação: “Porque silenciaste?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário