segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Quem é Deus?

No tempo de crianças, essa era a primeira pergunta que éramos  levados a responder  quando decorávamos, como papagaios,  o Catecismo Católico. E a resposta pomposa era, sempre, a mesma: “Deus é um puro espírito Criador do Céu e da Terra”. Seria taxado de herege quem mudasse uma palavra, mesmo que fosse, apenas, o tempo do verbo: Seria Deus um puro espírito... não dando  margem a qualquer dúvida.
Durante séculos, eminentes filósofos cristãos e não cristãos tentaram mudar essa definição, esbarrando sempre em não menos eminentes teólogos brandindo, em nome da Fé, a afiada espada do “anatema sit”, a exemplo do culto e intransigente Ratzinger, para lembrar, apenas, o último que, espera-se, tenha sido o derradeiro.
 Depois que a Ciência proclamou a independência, deixando de ser a “ancila fídei”, notadamente a partir da Idade Moderna, as pesquisas se intensificaram em busca da explicação da origem do Universo, quem sabe, o caminho para encontrar a verdadeira definição da Divindade.  Por mais que os poderosos telescópios, porém, tentem alcançar os limites desse misterioso Universo, parece que, em sentido contrário, a definição  da Divindade torna-se cada vez mais distante. Vem aí a teoria quântica, com a multiplicação de universos, distanciando, ainda mais, tal possibilidade.
O filósofo Giordano Bruno deu grande passo ao advogar a infinitude do Universo. O fogo da inquisição, porém, ao queimá-lo vivo, pretendeu reduziu a cinzas sua teoria. Com o reconhecimento da infinitude do Universo seria mais fácil conceber a Divindade, equivocadamente, expressa sob mil formas por outras tantas crenças.
Como já se afirmou noutra circunstância, a indefinição do mistério da origem do Universo será eterna justificando a existência da razão humana, ou de qualquer outro ser, por acaso existente com semelhante prerrogativa, cujo deleite é a procura da verdade que se esconde por detrás de tantas maravilhas que a tecnologia vai revelando sem, jamais chegar a qualquer limite tendo em vista que tal limite, tudo indica, não existe.
Diante de tantas maravilhas do Universo, haveria quem, em sã consciência, pudesse classificar alguém como ateu? Quando o velho sacerdote se aproximou do profeta de Gibran Kalil  e pediu  - “Fala-nos da religião”, ele começou a falar: “Tenho eu falado de oura coisa hoje?  Não é a religião todas as nossas ações e reflexões?... Quem pode separar sua fé de suas ações, ou sua crença de seus afazeres?”
Como dizer que um filósofo, um cientista, um pesquisador ou, ate,  um simples pensador, é ateu enquanto tenta penetrar a verdade do Universo?  Suma covardia seria o ser inteligente render-se a formulações mitológicas quando tem o instrumento da razão para ir além em busca da verdade tentando liberta-la de invólucros que escondem seu esplendor.
Para atender exigências de culturas circunscritas por dimensões materiais, na tentativa de explicar o Universo, não haveria outra saída para os mitólogos de épocas remotas, que se perdem na História a Humanidade, senão expressar as verdades por meio de concepções materialistas humanizadas e, até, brutalizadas, revestindo-as com aparências perceptíveis para povos despidos da dimensão espiritual, contaminados pela concepção heterônoma que comportaria dois mundos, um material, o terreno, onde habita, provisoriamente, o ser humano, e o espiritual, habitado por gloriosa coorte celestial, onde aportará um dia para sua estabilização final.

 Em resumo, seja qual for a denominação de Deus, independente das diversas tendências religiosas, seria impróprio reduzi-lo a formas personalizadas, ainda que fosse à imagem de um ser humano, sob a qual se apresenta incapaz de reger o Universo, incompetente, injusto, desleixado, nada previdente, nem mesmo , compassivo. Foi a semelhante Deus, coincidentemente, o seu Deus, o Deus dos cristãos, a quem o papa alemão Bento XVI se referiu ao visitar o campo de concentração nazista de Auschwitz, não se contendo diante de tanta perversidade, advertindo-o, à revelia da fé que sempre lhe devotou, com a indagação: “Porque silenciaste?”

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