terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Ciência e Fé

Se Agostinho, o bispo de Hipona, não tivesse se convertido ao Cristianismo, teria se tornado um dos maiores filósofos da humanidade. Desde que sujeitou seu saber à condição de “ancila fídei” seus ensinamentos perderam substancial credibilidade perante a racionalidade que rege a Filosofia. Teria o mesmo significado a atitude de Santo Tomás de Aquino que, no leito de morte, teria pedido a seus auxiliares que suspendessem os trabalhos, por ter recebido mensagem de que tudo o que escrevera até então era palha. Não terá sido “por ter subordinado especulações filosóficas aos dogmas das escrituras sagradas, sob o domínio da Igreja Católica” nas palavras do analista José Renato Salatiel? Sabe-se o quanto o aquinate teve que reformar sua linha de pensamento filosófico para não se ver anatematizado pelas autoridades da Igreja. Tome-se como exemplo a teoria do pecado original, formulada por Agostinho, por muitos séculos adotada pelo Cristianismo, hoje em pleno descrédito da maioria dos exegetas, inclusive, cristãos. O erro está no péssimo costume de exegetas estabeleceram verdades como infalíveis sem ouvirem os reclamos da Filosofia que pauta o caminho da ciência para não se desviar da razão, desde que não se há de aceitar qualquer irracionalidade na existência do Universo. Se não se há de negar verdades, simplesmente, porque a Ciência não as comprove, negue-se o direito de impô-las à revelia da razão. A história de Galileu Galilei é um marco histórico para a humanidade no sentido de alertar a Fé e a Ciência de andarem de mãos dadas em busca da verdade. Pelo menos, nada deveria ser definitivo enquanto não houver concordância entre as duas vertentes. Poderá acontecer que essa concordância jamais venha a acontecer. Fé e Ciência tem poderes diferentes que, porém, devem ser exercidos em harmonia para não se contradizerem, sem, porém, qualquer subserviência. Se assim fosse, Giordano Bruno não teria sido condenado à fogueira da inquisição pelo simples fato de afirmar a infinitude do Universo, hoje, admitida pela Ciência e, pelo menos, respeitada pela Fé. Não continuaria a ser condenada a teoria de Baruch Espinosa do “Deus sive Natura”, cada dia mais plausível à luz das descobertas científicas. Não estariam no extinto “Index Librorum proibitorum” as reveladoras obras de Telhard de Charden que, ainda, andam sepultadas. Estaria no canon dos doutores da Igreja a controvertida figura do Martinho Lutero com suas 72 teses afixadas na porta de uma igreja reconhecendo que, também, ele foi um marco na História do Cristianismo. Estaria sendo condenado o papa Pio IX por ter proclamado a infalibilidade pontifícia, responsável por boa parte de dogmas que desfiam a racionalidade. São fatos que acontecem dentro de limitadíssimo espaço de tempo, frente à eternidade do Universo em evolução. É o tempo, que não tem tempo para acontecer. Quando chegar um tempo, será tempo de novamente acontecer porque o Universo é eterno, em constante acontecer. Esse é um dos mistérios que, eternamente, ocupará a mente do ser inteligente justificando sua existência. Todo o ser humano é mortal e passageiro, a humanidade em evolução é que é eterna dentro da eternidade do Universo, sem principio e sem fim. O big-bang não foi o princípio do Universo, foi, apenas, o início de nova fase a se repetir eternamente.

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