Quando se fala descobrir uma nova linguagem para a
Igreja falar ao mundo da modernidade, logo vem à mente uma linguagem no sentido
de negar verdades que vem sendo pregadas há quase dois milénios, engessadas no,
impropriamente, dito Símbolos dos Apóstolos, vulgarmente, chamado Credo sancionado
há exatos 1600 anos, no primeiro concílio de Niceia (325 d.C).
Digo impropriamente denominado Símbolo dos Apóstolos
tendo em vista que, por mais que se queira
atribui-lo aos apóstolos, foi costurado pelo dito concílio convocado e
presidido pelo imperador pagão Constantino, o sumo sacerdote do paganismo.
Na prática, o imperador passou a exercer o comando de
dois credos: o pagão e o cristão. Sua intenção não era questão de fé. Pretendia,
apenas, acabar com querelas dogmáticas unindo o pensamento dos cristãos em
torno de um único estandarte, representado pelo Símbolo, união que viria em
benefício da defesa do Império Romano em declínio, cuja queda já se prenunciava,
vindo a acontecer 161 anos depois, em 476 d.C.
O papa Francisco em suas pregações vem mostrando que
a nova linguagem não tem nada a ver com negar ou afirmar verdades
preestabelecidas. Sem tocar em qualquer dogma, vem usando uma linguagem fácil de
ser entendida pelos fieis, com base no Deus da misericórdia.
A nova linguagem não teria como objetivo desmontar
uma estrutura dogmática construída ao longo dos séculos. As mesmas verdades,
amarradas no Credo, podem ser proclamadas e praticadas sem serem negadas por
uma nova linguagem,potém, que respeite a liberdade de consciência, com o direito
à duvida sem perigo de condenação por infidelidade. Francisco expressou esse
princípio numa única frase: “A dúvida faz parte da fé.” Quem sabe, seja essa a
essência da nova linguagem que está sendo procurada.
A essência da religião está na crença na Divindade
que existe e assiste o Universo. Não importa, necessariamente, acreditar em mil
outros dogmas que soem dividir a humanidade em mil formas de crer.
Ateu, herege, infiel para o Cristianismo é quem nega
Jesus Cristo; para o maometismo, quem nega Ala; para o judaísmo quem nega Javé;
para os egípcios quem nega Ra; para os budistas quem nega os Devas e; ... por
ai vai.
Se formos a fundo, tais denominações referem-se ao
mesmo viso sob diversas concepções com características diversas. Em sínteses,
todos seriam crentes da mesma divindade, vista sob óticas diferentes.
A verdadeira crença é a que tem como objeto a
essência que é a Divindade. Todo o resto é periférico, descartável, dispensável
que deve ser deixado para quem quer se divertir e passar o tempo. Para os
crentes na essência, dizer que Jesus é Deus, que Maria foi sempre virgem, que
foi levada ao céu corpo e alma, que Deus é trino, são simples detalhes que não deveriam
afetar a fé, em sua essência.
Aos teólogos cabe continuar a estudar para descobrir
a natureza dessa essência. Quem sabe, no decorrer de milionésimos, sob os
ditames da evolução, do “homo sapiens”, surja o “homo sapientíssimos” capaz de penetrar
o mistério dos mistérios ainda que, apenas, na subperiferia, tendo em vista que
ir, além, seria desvendar o mistério da Divindade, perdendo sentido a
existência de seres inteligentes no universo. Não haveria mais o que pesquisar
e descobrir, sendo esse o único prazer da ciência racional ao vasculhar o Universo.
Para os fieis bastaria a essência, não fossem
segundas intenções dos pregadores enchendo as mentes com mil formulações
mitológicas obscurecendo a Divindade e, até, tomando seu lugar.
Em última instância, não se pretende, porem, uma linguagem
permissiva, que tudo permita, muito menos, que tudo proíba. Cabe a inspirados
interpretes descobrir os limites que podem ser procurados dentro do verdadeiro Evangelho
de Cristo que, pelo visto, não foi escrito, ou, se o foi, terá sido mal
traduzido e pessimamente interpretado.
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