Venho acompanhando, curioso e prazeroso,
a narrativa da vida de Jesus transmitida por uma rede TV, admirando a
exuberante criatividade do novelista que, para se ressalvar de possíveis
críticas, deu o nome de novela, onde tudo é admissível para satisfazer a
fantasia dos expectadores. Dezenas de deuses “exmachina” estão a postos para
explicarem fatos inexplicáveis à razão humana. O autor, porém, exagerou ao
chegar à paixão e morte de Cristo, carregando a história de execrando
masoquismo, vitimando Jesus e os fiéis crentes, provocado por não menos
execrando sadismo de um pai, com a pretensão de castigar o filho por um pecado
que não cometeu, atribuído a um casal faminto, comendo uma inocente maçã, lá no
distante jardim do Éden, seduzido por inocente serpente, supostamente,
encarnando o Demo. Um pai diferente do descrito pelo próprio Jesus ao inventar
a Parábola do Filho Pródigo que, além de não castigar o filho desnaturado pelos
seus pecados, o recebe de volta ao lar com festas. O mesmo pai pretendido
misericordioso, pregado por Francisco. O próprio Jesus passou pela dúvida, ao
suplicar: “Pai, se possível, afasta de mim esse cálice”. Ao chegar à Semana
Santa, a Igreja deveria ter o cuidado de não exagerar na dose, para não levar desprevenidos
fiéis à descrença sobre tão escabrosa história, classificando-a como mais um
capítulo de bem engendrada e fantástica mitologia.
Elizio
Nilo Caliman
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