domingo, 7 de abril de 2019

Jesus (novela)


Venho acompanhando, curioso e prazeroso, a narrativa da vida de Jesus transmitida por uma rede TV, admirando a exuberante criatividade do novelista que, para se ressalvar de possíveis críticas, deu o nome de novela, onde tudo é admissível para satisfazer a fantasia dos expectadores. Dezenas de deuses “exmachina” estão a postos para explicarem fatos inexplicáveis à razão humana. O autor, porém, exagerou ao chegar à paixão e morte de Cristo, carregando a história de execrando masoquismo, vitimando Jesus e os fiéis crentes, provocado por não menos execrando sadismo de um pai, com a pretensão de castigar o filho por um pecado que não cometeu, atribuído a um casal faminto, comendo uma inocente maçã, lá no distante jardim do Éden, seduzido por inocente serpente, supostamente, encarnando o Demo. Um pai diferente do descrito pelo próprio Jesus ao inventar a Parábola do Filho Pródigo que, além de não castigar o filho desnaturado pelos seus pecados, o recebe de volta ao lar com festas. O mesmo pai pretendido misericordioso, pregado por Francisco. O próprio Jesus passou pela dúvida, ao suplicar: “Pai, se possível, afasta de mim esse cálice”. Ao chegar à Semana Santa, a Igreja deveria ter o cuidado de não exagerar na dose, para não levar desprevenidos fiéis à descrença sobre tão escabrosa história, classificando-a como mais um capítulo de bem engendrada e fantástica mitologia.
Elizio Nilo Caliman

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