Completados 89 anos de
idade, resolvi não mais ir à igreja, na sexta feira santa, para comemorar a Paixão
e Morte de Cristo. Precisei chegar a essa idade para, finalmente, colocar no
cadinho da dúvida certos mistérios pregados nos púlputos das igrejas, entre
eles, o da incarnação de um deus para redimir a humanidade de um pecado chamado
original, morrendo pregado numa cruz. Fique-se, porém, alerta para não me acusarem
de estar negando tais verdades pregadas ao vento. Sou pelo pensador Honoré Balzac (1799 – 1850),
o fundador do realissmo na literatura moderna, afirmando que o simples duvidar
significa crer. Com relação a Jesus, não me cabe negar sua existência e sua missão. Apenas,
ressaltar pontos obscuros, na esperança de que, um dia sejam esclarecidos, pelo
sim ou pelo não, que os ponha ao lume, começando pela genealogia de Cristo,
descrita pelo suposto evangelista Mateus. No Domingo de Ramos acompanhei a
comemoração da triunfante entrada de Jesus em Jerusalém. Os fieis incentivados
a proclamem, em altas vozes, - “Jesus filho de Davi”, fato que o evangelista
nega, dizendo que José não foi o pai de Jesus, mas gerado pelo Espírito Santo,
segundo anunciado, em sonho, por um anjo.
Como se tal espírito fosse descendente do rei Davi. Jesus nascido de uma
sempre virgem Maria, fato negado pelos evangelhos, que narram a existência de
inúmeros irmãos de Cristo. O imaginado sadismo de um pai que condena o filho a
ser crucificado depois de ser humilhado e pisoteado, para pagar um pecado que não cometeu, incutindo na humanidade inconcebível
masoquismo? Hoje mais se comemora o crucificado do que o ressuscitado. Não
teria o deus misericordioso e sapientíssimo outro caminho mais racional para
redimir a humanidade?
Poderíamos
enumerar outras aparentes irracionalidades, que o dicionário define como
absurdos, pontilhando as narrativas bíblicas, necessitando melhores esclarecimentos.
Quem sabe Jesus o fará em sua prometida segunda vinda, infelizmente, despertando
nova e crucial dúvida, quando o evangelista diz que virá para julgar os vivos e
os mortos. Ora, segundo a doutrina em voga, os mortos já foram julgados, fazendo
crer uma segunda instância, dentro da imutável eternidade, com possibilidade de
revisão de processos, quem sabe, mal conduzidos?
Salve,
o papa Francisco que nos permite a dúvida sem o temor do inferno.
Elizio Nilo Caliman
SHIN QI 4 conj.11 c.21
Lago Norte, Brasília – DF
Tel. 3468 4281
luxinverbo.blogspot.com
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