sexta-feira, 19 de abril de 2019

Duvidar é preciso


Completados 89 anos de idade, resolvi não mais ir à igreja, na sexta feira santa, para comemorar a Paixão e Morte de Cristo. Precisei chegar a essa idade para, finalmente, colocar no cadinho da dúvida certos mistérios pregados nos púlputos das igrejas, entre eles, o da incarnação de um deus para redimir a humanidade de um pecado chamado original, morrendo pregado numa cruz. Fique-se, porém, alerta para não me acusarem de estar negando tais verdades pregadas ao vento.  Sou pelo pensador Honoré Balzac (1799 – 1850), o fundador do realissmo na literatura moderna, afirmando que o simples duvidar significa crer. Com relação a Jesus, não me cabe  negar sua existência e sua missão. Apenas, ressaltar pontos obscuros, na esperança de que, um dia sejam esclarecidos, pelo sim ou pelo não, que os ponha ao lume, começando pela genealogia de Cristo, descrita pelo suposto evangelista Mateus. No Domingo de Ramos acompanhei a comemoração da triunfante entrada de Jesus em Jerusalém. Os fieis incentivados a proclamem, em altas vozes, - “Jesus filho de Davi”, fato que o evangelista nega, dizendo que José não foi o pai de Jesus, mas gerado pelo Espírito Santo, segundo anunciado, em sonho,  por um anjo. Como se tal espírito fosse descendente do rei Davi. Jesus nascido de uma sempre virgem Maria, fato negado pelos evangelhos, que narram a existência de inúmeros irmãos de Cristo. O imaginado sadismo de um pai que condena o filho a ser crucificado depois de ser humilhado e pisoteado, para pagar um pecado que não cometeu, incutindo na humanidade inconcebível masoquismo? Hoje mais se comemora o crucificado do que o ressuscitado. Não teria o deus misericordioso e sapientíssimo outro caminho mais racional para redimir a humanidade?
          Poderíamos enumerar outras aparentes irracionalidades, que o dicionário define como absurdos, pontilhando as narrativas bíblicas, necessitando melhores esclarecimentos. Quem sabe Jesus o fará em sua prometida segunda vinda, infelizmente, despertando nova e crucial dúvida, quando o evangelista diz que virá para julgar os vivos e os mortos. Ora, segundo a doutrina em voga, os mortos já foram julgados, fazendo crer uma segunda instância, dentro da imutável eternidade, com possibilidade de revisão de processos, quem sabe, mal conduzidos?
        Salve, o papa Francisco que nos permite a dúvida sem o temor do inferno.
Elizio Nilo Caliman
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