Aprofundados exegetas descobriram que na língua original em que
foram escritos os evangelhos não existe a palavra correspondente a perdoar concluindo
que a versão do Pai Nosso em Português é equivocada.
...
sobre o “perdoar”, devemos lembrar que, nem no original grego nem na tradução
latina do Evangelho, ocorre a palavra “perdoar”. Em grego é “aphíemi”, que quer
dizer desligar, soltar, libertar; a tradução latina é “demittere”, que
significa demitir, soltar. O sentido profundo é este: o ofendido deve
desligar-se do ofensor, ignorá-lo, não tomar nota; não deve sentir-se ofendido.
Somente é ofendível o homem ego, ao passo que o homem-Eu é inofendível. O ego
ofendível é como água, que é alérgica às impurezas do ambiente e é por ele contaminado.
(*)
Além do mais, exigir pedido de perdão implicaria um ato de
humilhação por parte do presumido ofensor. Humildade espontânea reconhecendo o
erro sem a necessidade do pedido de perdão, é o que vale e importa.
Foi o que
aconteceu durante a fatídica noite da paixão de Cristo. Pedro negou Cristo por
três vezes. Alertado pelo canto do galo em plena madrugada, arrependeu-se e
chorou. Não lhe passou pela cabeça ir se
ajoelhar aos pés do Mestre para pedir perdão. O Mestre, por sua vez o ignorou
sem pensar em retratação. Por sinal, nem sequer, o repreendeu, conservando-o,
inclusive, na cargo de chefe do Colégio Apostólico.
Inadvertidamente, exegetas ciosos para comprovarem a
presença de Pedro em Roma, inventaram a piada atribuindo-lhe uma quarta negação
ao Mestre ao fugir da perseguição de Nero. Ao se encontrar com Jesus, na via
Ápia, perguntou-lhe: “Quo vadis, Domine?” Sem recrimina-lo, Jesus apenas,
respondeu-lhe: “Roman vado iterum crucifigi”, vou a Roma para ser crucificado em seu
lugar. Mais uma vez, não consta pedido de desculpa do discípulo. Se fosse possível
comprovar seu martírio em Roma, Pedro, humildemente, teria retornado para cumprir
sua missão.
Não consta
nos evangelhos qualquer passagem em que Jesus mande pedir perdão dos pecados. À
pecadora adúltera, Madalena, ordenou,
apenas: “Vai e não peques mais”. O filho pródigo voltou arrependido e foi
recebido pelo pai sem pedidos de desculpas. Se, por acaso, for encontrada
qualquer referência a respeito, há de se interpretá-la como descuido de
tradução.
Um arrependimento sincero
vale por mil pedidos de desculpas formais, com frequência, despidos de sinceridade.
Por muitos anos vigorou a tradução na língua
Portuguesa: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos nossos
devedores”, levando à esdruxula interpretação de perdão de dívidas materiais. A
versão atual é a emenda do soneto com a repetição do mesmo erro. Jesus,
certamente, não ´pretendeu falar de tais dívidas, do contrário, seria a
canonização da negação dos impostos, tão a gosto dos
corruptos, inclusive,
do sacramentado dízimo cobrado pelas igrejas.
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(*) In Humberto Rohden, A metafísica do
Cristianismo - A alma de Jesus revelada no Pai Nosso. Ed. Martin Claret.
BSB,
05 de agosto de 2016.
Senhor Redator
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