domingo, 14 de agosto de 2016

Perdão (?)

Aprofundados exegetas descobriram que na língua original em que foram escritos os evangelhos não existe a palavra correspondente a perdoar concluindo que a versão do Pai Nosso em Português é equivocada.
... sobre o “perdoar”, devemos lembrar que, nem no original grego nem na tradução latina do Evangelho, ocorre a palavra “perdoar”. Em grego é “aphíemi”, que quer dizer desligar, soltar, libertar; a tradução latina é “demittere”, que significa demitir, soltar. O sentido profundo é este: o ofendido deve desligar-se do ofensor, ignorá-lo, não tomar nota; não deve sentir-se ofendido. Somente é ofendível o homem ego, ao passo que o homem-Eu é inofendível. O ego ofendível é como água, que é alérgica às impurezas do ambiente e é por ele contaminado. (*)
Além do mais, exigir pedido de perdão implicaria um ato de humilhação por parte do presumido ofensor. Humildade espontânea reconhecendo o erro sem a necessidade do pedido de perdão, é o que vale e importa.
Foi o que aconteceu durante a fatídica noite da paixão de Cristo. Pedro negou Cristo por três vezes. Alertado pelo canto do galo em plena madrugada, arrependeu-se e chorou.  Não lhe passou pela cabeça ir se ajoelhar aos pés do Mestre para pedir perdão. O Mestre, por sua vez o ignorou sem pensar em retratação. Por sinal, nem sequer, o repreendeu, conservando-o, inclusive, na cargo de chefe do Colégio Apostólico.

Inadvertidamente, exegetas ciosos para comprovarem a presença de Pedro em Roma, inventaram a piada atribuindo-lhe uma quarta negação ao Mestre ao fugir da perseguição de Nero. Ao se encontrar com Jesus, na via Ápia, perguntou-lhe: “Quo vadis, Domine?” Sem recrimina-lo, Jesus apenas, respondeu-lhe: “Roman vado iterum crucifigi”, vou a Roma para ser crucificado em seu lugar. Mais uma vez, não consta pedido de desculpa do discípulo. Se fosse possível comprovar seu martírio em Roma, Pedro, humildemente, teria retornado para cumprir sua missão.
Não consta nos evangelhos qualquer passagem em que Jesus mande pedir perdão dos pecados. À pecadora adúltera, Madalena,  ordenou, apenas: “Vai e não peques mais”. O filho pródigo voltou arrependido e foi recebido pelo pai sem pedidos de desculpas. Se, por acaso, for encontrada qualquer referência a respeito, há de se interpretá-la como descuido de tradução.
 Um arrependimento sincero vale por mil pedidos de desculpas formais, com frequência, despidos de sinceridade.

Por muitos anos vigorou a tradução na língua Portuguesa: “Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos nossos devedores”, levando à esdruxula interpretação de perdão de dívidas materiais. A versão atual é a emenda do soneto com a repetição do mesmo erro. Jesus, certamente, não ´pretendeu falar de tais dívidas, do contrário, seria a canonização da negação dos impostos, tão a gosto dos corruptos, inclusive, do sacramentado dízimo cobrado pelas igrejas.
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(*) In Humberto Rohden, A metafísica do Cristianismo - A alma de Jesus revelada no Pai Nosso. Ed. Martin Claret.
BSB,  05 de agosto de 2016.





Senhor Redator

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