Deus existe
Não
há como negar a existência de um ser supremo que paira cima de todas as coisas,
sustentando a realidade do Universo. Depois de infindas tiradas, às vezes zombeteiras,
contra religião, aquela taxada por Marx de “ópio do povo”, o filósofo Voltaire saiu-se com a expressão – "Se
Deus não existisse, seria necessário inventá-lo".
Se existem ateus, muitos deles é porque não
acreditam nesses deuses, inventados pelos homens, invertendo a Bíblia, criando-os
a sua imagem e semelhança, com suas qualidades e defeitos, elevados à enésima
potência. Há de se imaginar Deus com prorrogativas e atributos bem diferentes aos
destinados aos seres viventes do Universo.
Deus
uno e trino, Pai, Filho e Espirito Santo? À razão humana, os termos uno e trino
se contrapõem, de difícil compreensão. Só mesmo recorrendo ao mistério,
frequentemente utilizado pelas igrejas, para indicar a sublimidade da religião.
No Antigo Testamento não se encontra nenhuma passagem que indique tal mistério.
Tida como inspirada, ensina ao povo hebreu a existência de Deus supremo único,
o Deus de Abraão, frequentemente dito “O Senhor”. Às vezes, dá a impressão da
existência de outros deuses inferiores, os dos pagãos, a serem derrotados.
No
Novo Testamento, algumas passagens falam do Filho e do Espirito Santo, sendo
que Jesus sempre se reporta ao Pai. Espírito Santo pode ser interpretado como
um dos atributos da Divindade e filho como se diz que todos somos filhos da
Deus. Várias passagens do NT lembram tal verdade. Por amor à brevidade, cite-se,
apenas, São Paulo aos Gálatas: “Mas, depois que veio a fé, já não dependemos de
pedágio, porque todos somos filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo” (3:25-26).
Os primeiros cristãos não se preocuparam com a verdade da Trindade.
O
dogma da divindade do Filho, Jesus Cristo, só foi proclamado em 325, no
Concílio de Nicéia. O do Espírito Santo, tardiamente, em 1274, no Concilio de
Lion (França), depois de homéricos debates. O Espírito Santo ficou conhecido com o nome “Filioque”,
rejeitado pela igreja Ortodoxa Oriental. Sua inclusão no Símbolo dos apóstolos,
pela igreja Romana, foi o pivô decisivo da separação das duas igrejas, que
provocou a excomunhão mútua dos dois chefes, o papa de Roma e o patriarca da
Ortodoxa Oriental.
Admitida
a existência de Deus, todos os seres do Universo lhe devem reverência, cada qual
a seu modo. Ao ser humano através da religião. Religião no sentido popular de
religar o homem à Divindade, desde que, supostamente, desligado pelo pecado
original de Adão e Eva.
A
religação é feita entre o ser e Deus, não com Nossa Senhora, os santos e anjos.
A reverência e devoção a essas personalidades é legítima, desde que não
interfira, negativamente, na ligação direta com Deus, o que, frequentemente, acontece.
Brasília,
7 de janeiro de 2021.