Porque será que, apesar de se falar, constantemente, de Democracia como base fundamental de uma República, esta não funciona a contento, como acontece no Brasil? Em “A República” interpretando Sócrates, Platão coloca como fulcro do exercício do poder de governar a Justiça. Durante vários capítulos ocupa-se, junto com interlocutores, na procura de uma definição do que é Justiça, para a construção da “cidade ideal”. Esdrúxulas definições aparecem, entre elas, a de Polemarco, filho de Céfalo que se retirou da reunião, definindo-a: “Justiça como ato de dar benefícios aos amigos e prejuízos aos inimigos”. Finalmente, Sócrates a define: “Justiça é o equilíbrio e a harmonia entre as partes da cidade”, essas nomeadas por ele: a classe dos cidadãos simples, de constituição composta de feno ferro e bronze, encarregados de sustentar a cidade; a classe dos mais hábeis, por possuírem prata na constituição, encarregados de proteger a cidade, formada pelo exército e seus auxiliares na administração pública e; a classe dos mais nobres, a dos magistrados, os estudiosos que, na minha singela opinião, possuiriam ouro na constituição, encarregados de governar a cidade, com sabedoria. Difícil identificar, na sociedade brasileira e, quiçá, mundo afora, as três classes, como caracterizadas, a não ser a primeira formada pelos cidadãos simples. Quanto à definição de Justiça, pratica-se a de Polemarco: “Justiça como ato de dar benefícios aos amigos e prejuízo aos inimigos”, em benefício próprio. Transforma-se o processo de eleições em instrumento de cisão, dividindo a sociedade em situação e oposição quando, no final, todos deveriam se unir em torno do eleito, para aprová-lo ou reprová-lo, conforme o caso. A Democracia? Transformada em simples floreio na Constituição.
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