Perdão
Elizio Nilo Caliman – Brasília
Em tempos
idos, publique no Boletim comentário sobre “Perdão” tão insistentemente
invocado no Pai Nosso, ensinado por Jesus, com base no livro do filósofo Huberto
Rohden – Metafísica do Cristianismo, A alma de Jesus revelada no Pai Nosso, ed.
Martin Claret, 2013. Com o retorno do tema no último Boletim, sinto-me
provocado a retornar ao assunto.
Minhas
argumentações baseiam-se em afirmações do filósofo e educador. Ao fazer a tradução dos evangelhos, foi aos
originais, o Grego e o Aramaico, fazendo descobertas de como as traduções de
que dispomos sofreram distorções, na medida em que foram sendo reproduzidas e
retransmitidas, através dos tempos.
Com
relação ao termo perdão, afirma não
ter encontrado a palavra nos originais. No Grego encontrou a palavra “aphíemi, que quer dizer desligar,
soltar, libertar; a tradução latina é dimitere,
que significa demitir, soltar”. Foi este o termo, corretamente, utilizado por
São Jeronimo na Vulgata: “Demite
nobis debita nostra, sicut et nos dimitimos
debitoribus nostri”(grifo meu).
Dessa
constatação, o autor infere uma nova postura com relação ao pedir perdão, nos
seguintes termos:
“O sentido profundo é este: o
ofendido deve desligar-se do ofensor, ignorá-lo, não tomar nota; não deve
sentir-se ofendido. Somente é ofendível o homem-ego, ao passo que o homem-Eu é
inofendível. O ego ofendível é como água, que é alérgica às impurezas do
ambiente e é por ele contaminada”. O Eu, porém, é como a luz (“vós sois a luz
do mundo”) (Pag. 73). Mais adiante:
“Assim, o Eu, que é luz, é
inofendível, ao passo que o ego, que ainda é como agua, é ofendível. Quanto
mais ofendível alguém é, tanto mais ele é ego - e quanto mais inofendível alguém é, tanto mais ele é Eu. O ego sofre de ofendismo crônico e, não raro, de ofendite aguda. ... Melhor do que vingar ou perdoar é desligar-se,
ultrapassar a horizontal do ego ofendível e subir para a vertical do Eu
inofendível”. (pag. 74).
O autor cita Gandhi que, ao ser
perguntado se teria perdoado toadas as injustiças a seu inimigos, respondeu que
não, pois, nunca ninguém o ofendera, demonstrando que já estava na esfera
vertical do Eu.
Dessas argumentações, cabe-nos
concluir que exigir pedido de perdão é rebaixar-se ao nível do ofensor e
pretender humilha-lo. Não pedir perdão não significa, porém, não se arrepender
e não reparar o mal, tanto moral como físico ou financeiro, na medida do
possível.
Cabe aqui a anedota do confessor
que, perante uma devota que andava difamando as pessoas, ordenou-lhe que
subisse ao alto da torre e depenasse uma galinha, lançando as penas ao vento.
De volta para receber a absolvição, o sacerdote, como penitência, mandou-a
recolher as penas.
A se levar em conta a descoberta de
Huberto Rohden, uma conclusão se impõe. Com relação a Deus, a Luz das luzes, é
plenamente inofendível. Pairando, em sua perfeição acima, ou dentro, de todos
os seres do universo, não se humilha exigindo pedido de perdão.
Às religiões, cabe instruir seus seguidores
para não perderem seus tempo e dignidade, arrastando-se, humilhantemente,
perante a cruz, chorando e pedindo perdão dos pecados, a cada Sexta-Feira
Santa. Que o simbólico “me desculpe”, seja cultivado para demonstrar o
arrependimento e o propósito de ressarcir os danos causados, fugindo a uma
simples formalidade.